09/05/11

o testamento...



vídeo de filipe larangeira.

Sei que fui vil e mesquinho
Como tantos outros varôes
Mas antes que a chama
Atice suas ferinas paixões
Deixo-vos joia com rama
Para dar corda às ilusões

Deixo-vos avisos claros
E mais fortes provisões
E uns quantos pós raros
Pra dar coça aos ladrões

Deixo no nosso Mosteiro
Um cão e duas clarissas
Ninguém pagou um porteiro
Que o guardem as noviças!

E se o Mosteiro vetusto
Em hotel se transformar
Só mesmo os ratos de luxo
Lá poderão pernoitar.

Aos notáveis desta terra
Na democracia uns leões
Deixo uns jogos de guerra
Pra aquietar as comichões

Ao Círculo Católico Operário
Ramalhete das associações
Ofereço bom caderno diário
Pra que registem as acções
Do povo da queima tributário

Quem tem talento cria, não copia
Por isso deixo à nossa bibliotecária
Sem laivos de quaisquer hipocrisia
Esta pérola de costura tão precária

Se o Zé mais parece um chacal
O Passos finge que se zanga
E assim neste pagode colossal
Já o povo desfila de tanga

Deixo à juventude precária
Pra quem trabalho é miragem
A força da coragem necessária
Para derrubar a sacanagem

Aos tubarões agora chegados
Que dão pelo nome de FMI
Aviso-lhes que os revoltados
Não cantam o seu dó ré mi

Para que a lua não se finde
Nem se esgote a paciência
Ó gentil Ostera agora vinde
Ouvir uma última diligência

Ostrera senhora da Claridade
A quem dei toda a riqueza,
Porque és herdeira da verdade
nunca tu mostraste fraqueza.

Deixo-vos Ostera, a Liberdade
Mulher fugídia, ideia mais bela,
e a vós Povo, a responsabilidade
de saberem o que fazer com ela.

JUDAS, 2011

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